Peregrinos na esperança a caminhar para a Páscoa
Caríssimos cristãos e pessoas de boa vontade, saúdo-vos a todos na fé, esperança e caridade.
A Quaresma é o tempo santo e favorável da salvação vivido ao longo de quarenta dias, através do deserto interior, no seguimento de Jesus. Somos chamados a caminhar com Ele, para participarmos com alegria na vida da Nova Aliança. Em caminho sinodal, vivamos juntos o apelo à conversão, à renovação interior, à penitência, à oração, à escuta da Palavra de Deus e à partilha fraterna do pão com os mais necessitados.
A peregrinação do povo de Israel no deserto ilumina a vida da Igreja e propõe aos fiéis um estilo de vida nova experimentada na “comunhão, participação e missão”, cuja fonte brota do mistério pascal de Cristo.
O encontro com Cristo, morto e ressuscitado, desafia-nos a todos os batizados a vivermos na liberdade e na responsabilidade de sermos filhos de Deus. A vida nova no Espírito Santo compromete-nos a viver a vocação à santidade na Igreja com esperança.
“A Quaresma é o tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor (cf. Os 2, 16-17). Deus educa o seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte à vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a Si e sussurra ao nosso coração palavras de amor” (Mensagem do Papa Francisco, Quaresma 2024). A travessia do deserto é sempre uma experiência amorosa com Deus rico em misericórdia.
Para iniciar um caminho novo de libertação interior, é preciso aceitar o desafio da mudança de rumo na nossa vida. Precisamos de abandonar a planície da mediocridade, espaço de prisão, onde abundam os ídolos, os vícios, o pecado, a desordem moral, o dinheiro, o álcool, a droga, o jogo, a criminalidade, o medo, a angústia, a solidão, o ciúme, a inveja, o orgulho, a vaidade, a ganância, a corrupção, o lucro desonesto, a exploração, a fraude, a indiferença, o ateísmo, os desregramentos pessoais e sociais, que provocam injustiças e violências graves, causando feridas difíceis de curar no ser humano e no tecido da sociedade atual.
No meio das tribulações e desolações que afetam o nosso mundo, perante a “indiferença da globalização”, peçamos a Jesus nesta Quaresma que nos aponte caminhos da verdadeira libertação e cura interior, para sermos artífices da esperança, promotores de uma verdadeira ecologia sustentável, promotora da dignidade das pessoas e da defesa do meio ambiente.
O Papa Francisco pede-nos para derrubar os muros e obstáculos que nos impedem de sonhar e dar “um grito mudo que chega ao céu e comove o coração de Deus. Assemelha-se àquela nostalgia da escravidão que paralisa Israel no deserto, impedindo de avançar. O êxodo pode ser interrompido […] na escuridão das desigualdades e conflitos” (Mensagem para a Quaresma, 2024).
Deus escuta as nossas orações e dá-nos um coração cheio de generosidade
Em ano dedicado à Oração e em que celebramos o Congresso Eucarístico Nacional e Internacional, pedimos na oração a Deus, que venha em nosso auxílio e nos ensine a contemplar Jesus na Eucaristia, o bom Samaritano, que a cura as feridas de uma sociedade vulnerável e doente.
Com a finalidade de pôr em prática a fraternidade e a solidariedade evangélica, a Renúncia Quaresmal da Diocese de Viseu tem o seguinte destino, em partes iguais:
- Ajudar na construção da Igreja da Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus em Ile, Diocese de Gurúè, na Província da Zambézia, em Moçambique, onde trabalham as Irmãs de Jesus, Maria e José, fundadas pela Beata Rita Amada de Jesus.
- Ajudar na construção do “Projeto de Desenvolvimento Integral de Lembá”, na cidade das Neves, em São Tomé e Príncipe e dinamizado pelas Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição.
- Ajudar as Irmãs Trapistas do Mosteiro de Santa Maria, Mãe da Igreja em Palaçoulo, Diocese de Bragança-Miranda na reconstrução da Hospedaria destruída pelo incêndio recente. Em resposta ao apelo do Bispo D. Nuno de Almeida, vamos ajudar as necessidades das Irmãs Trapistas.
- Ajudar a dar mais consistência ao “Fundo de Emergência da Diocese de Viseu”, destinado a ajudar pessoas e instituições. Sejamos generosos nas ofertas e ajudemos os mais necessitados.
A fecundidade espiritual da Quaresma, gera desafios eclesiais e pastorais
Valorizemos, todos juntos, pastores, consagrados e leigos, as ações litúrgicas e os atos de piedade popular mais vividos pelo povo de Deus ao longo dos 40 dias da Quaresma: A oração da Liturgia das Horas, a Lectio Divina, a Via-Sacra, o Terço, os Retiros Espirituais, as Conferências Quaresmais, as Pregações e Procissões do Senhor dos Passos, as celebrações Penitenciais, o Sacramento da Reconciliação, a celebração da Eucaristia, o Lausperene, as Vinte e Quatro Horas para o Senhor, a oração de Taizé e a vivência de cada Domingo da Quaresma com a dinâmica própria da nossa Diocese “Enraíza-te em Cristo”.
A celebração do Domingo de Ramos, a partilha da Renúncia Quaresmal, a Semana Santa e o Tríduo Pascal fazem memória do sacerdócio ministerial e da Eucaristia em Quinta-Feira Santa, o mistério da Paixão e Morte de Jesus na Cruz em Sexta-Feira Santa, o silêncio fecundo e orante no Sábado Santo, para com alegria e esperança celebrarmos a Vigília Pascal e anunciarmos ao mundo a vida nova de Cristo Ressuscitado.
As crises do mundo atual e atenção de Deus aos gritos, aflições e dores do seu povo
Diante de uma crise mundial a nível social, económico, ecológico e ambiental, com consequências sem precedentes nas alterações climáticas, no aumento da pobreza no mundo, com a virulência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a guerra entre Israel e a Palestina, com tantos mortos e refugiados, as dificuldades em mudar o rumo das coisas e promover um cessar fogo estável, o acolhimento dos refugiados, a implementação de negociações que levem ao fim da guerra, promovam a justiça social e a construção da paz estão longe de acontecer.
Perante a instabilidade social e política vivida por muitas nações, manifesta-se uma insatisfação generalizada em muitas pessoas e em diversos grupos da sociedade, que reivindicam direitos, denunciam injustiças, que afetam a harmonia da vida humana.
As próximas eleições legislativas devem ser vistas com responsabilidade e empenho pelos candidatos e por todos os cidadãos de modo que possam contribuir para o futuro de um país mais próspero e justo. Faço um apelo a todos os cidadãos para que participem ativamente no ato eleitoral com o seu voto livre, consciente e responsável. Para os cristãos, votar é um dever cívico, um ato humano e moral, iluminado pelos princípios da Doutrina Social da Igreja.
Observo, com preocupação, a situação difícil de muitas famílias, que vivem em dificuldades económicas sérias, no limiar da pobreza, por falta de trabalho, diminuição de rendimentos, falta de meios para pagar a prestação da casa ou da renda, comprar alimentos, medicamentos essenciais ou gerir as despesas com a educação e a saúde dos filhos.
Não esqueço os idosos, os doentes, os que sofrem, os fragilizados, os que vivem sozinhos em casa ou estão internados em instituições particulares de solidariedade social, os doentes internados nos hospitais e estabelecimentos de saúde, para que tenham sempre quem os acolha e cuide deles com amor, compaixão e empatia.
Um olhar de Esperança e um compromisso com Cristo Ressuscitado
Uma palavra de esperança e de solidariedade para os imigrantes e refugiados que vivem e trabalham na nossa Diocese de Viseu, para que Deus os acompanhe e ajude a fazer a sua integração na comunidade.
Convido os pastores, os consagrados e os leigos a viver como verdadeiros filhos de Deus em comunhão com as crianças, os adolescentes, os jovens e as famílias, a fim de se tornarem protagonistas na construção de paróquias vivas e dinâmicas.
Empenhemo-nos todos pastoralmente na evangelização, na catequese, na liturgia e na caridade, que dão sentido à fé acreditada, celebrada e testemunhada. Imploro a luz de Deus, a força do Espírito Santo e a proteção de Maria, de São José e de São Teotónio para vivermos este tempo de graça como caminho de santidade ao encontro de Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, o único e verdadeiro libertador das nossas vidas.
António Luciano, Bispo de Viseu
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