A todas as pessoas de boa vontade:
1. Ser sujeito da própria história da fé ou construtor de um mundo novo e melhor é sempre uma profunda aspiração do homem e da sua realização no plano da salvação. Neste contexto o cristão é o homem da confiança e da esperança. Vivemos um tempo das igrejas vazias (Tomás Halík), e agora voltamos de novo à celebração comunitária e presencial da Eucaristia.
Afirmava Tomás Halík no Domingo de Ramos de 2020: “Não consigo afastar a ideia de que as igrejas vazias e fechadas nesta Páscoa são um sinal de alerta profético. Isso poderá acontecer em breve com a Igreja, se não passar por uma transformação profunda, pela morte e ressurreição, se não tiver coragem de deixar morrer muitas coisas, para que o novo possa surgir renovado para a vida” (O Tempo das Igrejas vazias, p. 73,74).
O Cristianismo e a Igreja nasceram da Páscoa de Jesus Cristo, acontecimento central e fundante da fé em Cristo, Crucificado e Ressuscitado.
Cristo entregou-se à morte na Cruz, assumindo no sofrimento e na morte a sua vitória. Esta foi a hora do Crucificado, em que glorificou o Pai e salvou a humanidade. A fé leva-nos sempre a buscar o próprio Deus, que no caminho quaresmal nos convida à conversão interior e à reconciliação com os irmãos. A Igreja, Mãe e Educadora na fé, deseja que todos os batizados façam este caminho pessoal e comunitário “de arrependimento dos seus pecados, pedindo a Deus o dom do perdão, com um coração sincero, e a procurar o dom da reconciliação com Deus e com os irmãos. O sinal da reconciliação faça crescer os cristãos na comunhão e na unidade. Queremos uma Igreja reconciliada e reconciliadora, que anuncia ao mundo de hoje o Evangelho da misericórdia” (Carta do Bispo de Viseu aos Sacerdotes, Diáconos e Consagrados, 19/03/2021).
Jesus, o Crucificado, é o nosso caminho para a Páscoa, a fortaleza da nossa fraqueza e a esperança da nossa ressurreição. Sabemos que “Deus ama o pecador, mas rejeita os seus pecados e acolhe-o, arrependido de braços abertos (cf. Lc 15, 20). Que todos, ao longo desta Quaresma, em tempo de pandemia, experimentemos a grandeza da conversão e da reconciliação, quer através do Sacramento da Reconciliação, quer através de um ato pessoal de arrependimento e de mudança interior para encontrar a vida nova.
2. A Quaresma, na reta final, convida-nos à celebração do Domingo de Ramos, pórtico da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e da celebração do Mistério da Sua Paixão e Morte, dom gratuito da salvação oferecido à humanidade.
O Mistério da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, que celebramos no Domingo de Ramos, é fundamental para a nossa fé cristã. Celebramos a entrada solene de Jesus em Jerusalém, como Rei e Senhor da história e da humanidade, montado numa jumentinha e aclamado pela multidão: “Bendito o que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!”
A celebração e a bênção dos ramos realizam-se dentro das Igrejas, procurando cada um levar o seu ramo para ser benzido. Não devemos partilhar os ramos, por causa da pandemia. Como cristãos, abramos o nosso coração à contemplação de Jesus na Cruz, o Crucificado, que foi elevado para atrair a todos no caminho para a Páscoa. Como ensina São Paulo, os cristãos “pregamos Cristo Crucificado”, e esta é a missão de todos os batizados.
O peditório desta celebração, a Renúncia Quaresmal, este ano destina-se à Diocese de Pemba, Moçambique e a prover as necessidades da Diocese de Viseu. Em tempos de pobreza e vulnerabilidade sejamos generosos.
Coloque cada família uma cruz à entrada da sua casa.
3. A Semana Santa inicia o mistério da nossa salvação. Por isso os sacerdotes, os diáconos, os consagrados e os leigos celebram a Missa Crismal, presidida pelo Bispo da Diocese, na manhã de Quinta-feira Santa, na qual os sacerdotes se reúnem em presbitério e celebram o jubileu da ordenação os que têm 25, 60 e 70 anos de sacerdócio. Todos juntos, renovam as promessas sacerdotais, e benzem-se os Óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos, e faz-se a consagração do Santo Crisma.
O Tríduo Pascal inicia-se com a Eucaristia vespertina da Ceia do Senhor, de acordo com o ritual, e, este ano, sem a realização do gesto do lava-pés. Esta celebração evoca a Instituição da Eucaristia, onde Jesus no banquete se dá em alimento: “Ó Sagrado Banquete em que se recebe Cristo e se comemora a Sua Paixão, em que alma se enche de Cristo e nos é dado o penhor da futura glória”.
Jesus celebra a última ceia com os seus discípulos e entrega-lhes o Pão e o Vinho como alimento para fazerem sempre isto em sua memória. “A liberdade que Jesus nos dá, o mundo não a pode dar. Jesus é o caminho rumo à liberdade, a verdade que nos torna livres e a vida que liberta do medo, do pecado e da morte. Quando, juntos, celebramos a Eucaristia, a Ceia do Senhor, abrimo-nos nós mesmos, as nossa vidas, as nossa comunidades e todo o mundo a Cristo libertador” (Tomás Halík, Via Crucis, Paulinas, p. 6). A partilha desta Eucaristia é para ajudar os pobres, porque celebramos o Dia do Mandamento Novo do Amor.
A celebração de Sexta-Feira Santa faz memória da Paixão e Morte de Jesus. “No rito da adoração da Cruz, apenas o sacerdote fará o gesto habitual de adoração”.
Façamos em nossas casas um altar com Jesus Crucificado, diante do qual dediquemos um tempo de oração pessoal e familiar. Meditemos no mistério da cruz e do crucificado e escutemos a oração de Jesus: “Meu Deus, porque me abandonastes”. No abandono, na dor, no sofrimento, “Jesus entrega o seu espírito” ao Pai e experimenta o mistério da morte. “Mas Deus não está morto, não dorme. Nas noites escuras da ocultação de Deus, é preciso viver uma tríplice paciência: na fé, na esperança e no amor” (Tomás Halík, p. 10 e 11).
O peditório deste dia é para os Lugares Santos; sejamos generosos com os cristãos da Terra Santa.
O Sábado Santo é um dia de silêncio, de luto, de oração, de solidão e de repouso. Transformemos as perguntas e dúvidas em oração. “Deus não deixa que a pergunta do seu Filho fique sem resposta: a sua resposta é a luz da manhã de Páscoa” (Tomás Halík, p. 24).
A Vigília Pascal é a “Mãe de todas as Vigílias”. Realiza-se no interior da Igreja, e nela celebramos a vida nova, que em Cristo Ressuscitado foi oferecida à humanidade, vencendo o pecado e a morte. A bênção do lume novo, o cântico do Precónio Pascal, a escuta da Palavra de Deus, o cântico solene do Aleluia, o Evangelho da ressurreição, a oração, a bênção da água e a renovação solene das promessas do Batismo são momentos para celebrarmos o anúncio solene de Cristo Ressuscitado.
O Domingo da Ressurreição, Páscoa do Senhor, centro da espiritualidade cristã, celebra-se dentro da Igreja. Não se realiza a procissão da Ressurreição com Jesus na Eucaristia. Viva-se festivamente a Páscoa, tocando solenemente os sinos. Convido todos os cristãos a colocar uma cruz enfeitada na porta das suas casas ou janelas e a dar destaque ao estandarte de Cristo Ressuscitado.
Vivamos este dia no cumprimento das normas da DGS e das orientações da CEP, que proíbe “as procissões e outras expressões da piedade popular, como as “visitas pascais” e a “saída simbólica de cruzes, de modo a evitar riscos para a saúde pública” (CEP, 11 de março de 2021).
É preciso saber obedecer às orientações. Faço um apelo a todo o povo de Deus para que saiba ser responsável, evitando aglomerações de pessoas nos exteriores das igrejas.
Saibamos todos contribuir para as necessidades da Igreja e para a sustentação do clero, quer seja pela partilha da côngrua, quer pela oferta do folar. Que todos experimentem a Vida Nova em Cristo. Caminhemos juntos, com Cristo Ressuscitado, pelas estradas de Emaús, ao encontro dos irmãos.
Que a Senhora da Alegria e São José encham de gozo espiritual as nossas vidas, enfeitadas com a beleza das flores brancas da Páscoa.
Desejo a todos Santas Festas de Páscoa em Cristo Ressuscitado. Aleluia! Aleluia!
Viseu, 23 de março de 2021
† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
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