“Minha Mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21).
1. Temos Mãe! Jesus no Calvário deu-nos uma Mãe: “Jesus viu sua Mãe e, ao lado d’Ela, o discípulo que Ele amava. Então disse a sua Mãe: ‘Mulher, eis aí o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis aí a tua Mãe!’” (Jo 19, 26-27).
É no calvário que Maria assume a missão
espiritual, que exerce sempre em benefício e favor dos cristãos e da
humanidade inteira. A missão materna de Maria, em ordem à graça, é de
natureza espiritual, sobrenatural; nada tira ao mérito atribuído à única
mulher que, na humanidade, foi isenta do pecado original, pois Ela é a
cheia de graça, a quem a Igreja não cessa de proclamar: “todas as
gerações me chamaram bem-aventurada” (Lc 1, 48).
Deus escolheu Maria e confiou-lhe a
missão de ser a Mãe de Jesus, o Salvador do mundo, segundo a carne. Ao
receber no seu ventre o Verbo de Deus, Aquele, sendo de natureza divina,
assume a natureza humana. Assim, Ela torna-se a Mãe do próprio Filho de
Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.
O seu próprio Filho confiou-lhe a missão
de cuidar de todos nós, dos cristãos e não cristãos, de todas as
pessoas de boa vontade em busca da verdade. Ela manifesta
permanentemente a sua preocupação solícita por todos. Ela oferece os
seus cuidados de Mãe pela conversão dos pecadores, que neste vale de
lágrimas peregrinam rumo ao encontro com Deus. Como Mãe, está atenta às
necessidades dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam na terra
durante este tempo sombrio de calamidade, de flagelo e sofrimento
provocado pelo Covid-19.
Ao longo da História da Igreja e nesta
vivência do tempo de pandemia, os cristãos não deixaram de invocar a Mãe
do Céu, pedindo-lhe o seu auxílio e proteção: “À vossa proteção nos
acolhemos, Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas, em
nossas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem
gloriosa e bendita. Ámen!”
Esta oração tão antiga é a segunda a
Nossa Senhora, depois da Ave-Maria ter sido pronunciada na Anunciação
pelo Arcanjo São Gabriel a Maria de Nazaré e continuada por Santa
Isabel, durante o encontro da visitação de Maria a sua casa. Vamos pedir
Àquela que é a Mãe de Jesus e que está sempre presente na nossa vida
que nos mostre o seu carinho e a sua ternura de mãe. Presente, ajuda-nos
nas nossas necessidades e nos perigos que nos assaltam ao longo da
vida, como nos ensinava São João Paulo II, que entregou toda a sua vida a
Cristo, pelas mãos de Maria: “Totus Tuus Maria”.
A devoção a Nossa Senhora tem sido, para
os cristãos ao longo dos séculos, uma âncora, à qual todos nos
agarramos nas horas difíceis, e um porto de esperança, em tempos de
dificuldades, porque “Ela é verdadeiramente a Estrela do Mar”. No Ano
Santo Mariano celebrado, o Papa São João Paulo II publicou a Encíclica Redemptoris Mater,
e, mais tarde, no Ano do Rosário, publicou uma “Carta sobre o valor do
Rosário”, onde afirmou que o terço era a sua oração predileta.
Posteriormente, o Papa Francisco mostrou
a sua devoção à Mãe de Jesus e, como Pastor da Igreja Universal, pediu
que na praça de São Pedro, repleta de fiéis, no Ano da Misericórdia
durante a celebração solene da Eucaristia, estivesse presente a
veneranda imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que se venera na
Capelinha das Aparições. Na praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa
Francisco renovou a consagração da Igreja e do mundo a Nossa Senhora, na
riqueza do seu Coração Imaculado.
Após tantos ensinamentos sobre Nossa
Senhora, peregrinou a Fátima para canonizar os pastorinhos São Francisco
e Santa Jacinta Marto. Nessa ocasião, pronunciou uma solene homilia,
proferindo palavras de bênção e de apelo à Igreja e à humanidade, e
proclamando com alegria, fé e esperança: “Temos Mãe”. Uma Mãe, de
coração grande, cheia de ternura e de amor, de graça e de paz, de perdão
e de misericórdia, de proximidade e de compaixão, de presença e
intercessão.
Maria, como Mãe, é ainda refúgio dos
pecadores e consolação dos aflitos. Por isso, lembramos a sua aparição
de junho de 1917, quando mostrou o seu coração aos pastorinhos e disse à
Lúcia: “O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te
conduzirá até Deus”.
Maria, como Mãe, está sempre preocupada
com o bem da Igreja e da humanidade, para que aconteça a construção da
verdadeira paz, o bem comum e maior para todos, o chamamento dos
pecadores à conversão, a ajuda à Igreja que sofre e é perseguida, a
libertação das nações aniquiladas, a renovação e vivência da fé na vida
dos cristãos, a salvação de todos e de todo o género humano e a promoção
do bem comum universal.
2. O mês de maio inicia com a celebração
litúrgica da festa de São José Operário, esposo da bem-aventurada
Virgem Maria. Um dia marcante na vida dos cristãos e da Igreja, que
inicia um caminho de oração pela recitação diária do terço em família.
Celebramos o IV Domingo da Páscoa, o dia
do Bom Pastor, encerramento da Semana de Oração pelas Vocações de plena
Consagração na Igreja. Como batizados, não esqueçamos esta intenção,
rezando em cada dia para que Deus conceda à sua Igreja muitas e santas
vocações de consagração.
Toda a vocação vem de Deus, é um dom divino,
oferecido a cada um de nós para ser vivido no serviço à Igreja e à
humanidade necessitada de gestos de gratuidade e solidariedade.
Continuemos a rezar pedindo a Deus o dom de novas vocações para a
Igreja, tomando consciência do que significa ser batizado em caminho de
santidade. Não nos cansemos de pedir na oração pelos que sofrem ou estão
em provação neste tempo de pandemia.
Peçamos à Bem-Aventurada Vigem Maria,
Mãe da nossa esperança, refúgio dos pecadores e auxílio dos cristãos,
que nos ensine e ajude a confiar na solicitude do seu Filho, o Bom
Pastor das nossas almas.
3. No primeiro domingo, dia 3 de maio,
celebramos o dia da Mãe. Convido-vos a todos a rezarmos pelas nossas
mães, as que ainda vivem e as que já partiram para junto de Deus.
Dia da Mãe, dia muito querido para os cristãos e para todo o povo português.
Façamos deste mês de maio um caminho
pessoal de fé, de oração pessoal, de oração em família, em comunhão com a
Igreja em tempo de pandemia.
Continuemos a cumprir as orientações do
Governo, da DGS e da CEP vigentes. Teremos mais uma oportunidade de, em
família e enquanto “Igreja Doméstica”, nos exercitarmos na prática das
virtudes, continuando este caminho de fé, através da oração do terço e
da escuta da Palavra de Deus, como nos pede o Papa Francisco.
Na sua recente carta sobre o terço, o
Papa Francisco convida-nos a rezar o terço em família para vivermos este
mês, dedicado à Santa Mãe de Deus, com amor, confiança e esperança,
fazendo uma verdadeira peregrinação na fé neste tempo de graça, de
louvor, de retiro espiritual e também de provação.
A experiência da fé, a resposta aos
problemas na provação, os sofrimentos e angústias do próximo, a vivência
do exercício da nossa liberdade e da nossa responsabilidade, como nos
pede o Santo Padre, deve leva-nos a dar um sorriso a cada um dos nossos
irmãos com a força e o dinamismo das “palavras da vocação”.
Vamos durante este tempo pascal aprender
a dizer “Sim” a Deus como Maria, imitando o seu exemplo de serviço na
alegria e na esperança, na certeza de que cada “família, quando reza
unida, permanece unida”.
Participando no testemunho da vida de
Maria em serviço aos irmãos, o mês mariano encerra no dia 31 de maio com
a celebração da Festa de Nossa Senhora da Visitação, a Senhora dos
Cuidados Humanos.
4. Maria, mulher e mãe, têm um lugar eminente na vida da Igreja, cheia de ternura e de proximidade junto de todos os que acreditam na pessoa de Jesus Cristo.
Os cristãos, fiéis à tradição orante e
espiritual da Igreja, invocando a proteção de Maria na sua vida,
preparam-se para, de modo espiritual, não presença física, participar na
celebração da peregrinação internacional anual de 13 de maio ao
Santuário de Nossa Senhora de Fátima.
Vamos ao longo deste mês de Maio honrar a
Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, Mãe da Igreja e Mãe
dos cristãos. Vamos em cada dia, com carinho e devoção, prestar
homenagem à mulher, à esposa, à consagrada, à mãe que, através de gestos
simples e significativos, “proclamamos Bem-Aventurada por todas as
gerações”.
A oração do terço, que rezávamos
solenemente nas nossas Igrejas, santuários e capelas, este ano, como
consequência do coronavírus, vamos rezá-lo nas nossas casas, em família,
como nos pede o Papa Francisco.
Depois de termos celebrado o Dia da
Igreja Diocesana, agora façamos todos um altar em casa para nele
entronizarmos uma imagem de Nossa Senhora, enfeitando-o com as lindas
flores que temos no nosso jardim ou na varanda da nossa casa; não nos
esqueçamos de acender uma vela, símbolo do nosso batismo, vocação fonte
de todas as vocações na Igreja. A imagem de Maria, a Mãe de Jesus, da
Igreja, de cada um de nós e da humanidade, ficará assim como verdadeira
Mãe presente na família, cuidando de nós e ensinando-nos a sermos
verdadeiramente discípulos de Cristo.
Termino lembrando a vida de Maria no
relato das Escrituras. A profecia de Isaías: “Eis que uma Virgem
conceberá e dará à luz um filho, chamado Emanuel”, aplica-se a Maria,
assim como outros textos do Antigo Testamento. Nos Evangelhos, nos Atos
dos Apóstolos, na Carta aos Gálatas e no livro do Apocalipse – textos
maravilhosos – descobrimos a grandeza do “Sim” de Maria e também a sua
vocação enquanto Mãe de Jesus Cristo e Mãe da Igreja. A sua vocação foi
sempre um sim incondicional a Deus, uma disponibilidade verdadeira para
fazer a vontade de Deus, escutar a Sua Palavra e pô-la em prática, num
serviço de oração e caridade a todos os crentes. A vida de Maria,
exemplo de santidade, é aprofundada pela pregação dos Santos Padres e
pela reflexão dos teólogos e do Magistério da Igreja até aos nossos
dias, que nos falam da fé, do amor, da humildade, da simplicidade, da
ternura, da compaixão, das dores, da alegria e do testemunho das
virtudes humanas, morais, espirituais e evangélicas que nela sobressaem.
5. Durante o mês de Maio tenhamos a
força, a alegria e o desejo de meditarmos algum destes textos ou então
ler um bom livro que nos apresente a missão de Maria na vida da Igreja.
Ao terminar esta partilha, deixo-vos
como sugestão leitura de algum livro sobre a Mensagem de Fátima ou então
o capítulo VIII da Lumen Gentium do Concílio Vaticano II, dedicado a
Nossa Senhora, onde podemos ler: “Efetivamente, a Virgem Maria, que na
anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a
Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor”.
(…) “Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens
necessitados de salvação; melhor, ‘é verdadeiramente Mãe dos membros (de
Cristo)…, porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem
os fiéis, membros daquela cabeça’. É, por esta razão, saudada como
membro iminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar
perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo
Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de
piedade” (LG 53).
A vocação e o serviço de Maria à Igreja e
à humanidade têm uma dimensão e uma abrangência única: “Mãe de Cristo e
Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis” (LG 54). Maria, a “mãe dos vivos”,
é recordada por Santo Ireneu como a Virgem que “obedecendo, ela
tornou-se causa de salvação, para si e para todo o género humano” (LG
56). Os santos Padres ensinam que Maria, não foi utilizada por Deus como
instrumento meramente passivo, mas que Ela cooperou livremente, pela
sua fé, pela sua graça e obediência na salvação de todos os homens.
“Esta maternidade de Maria na economia
da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente
deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à
consumação eterna de todos os eleitos. De facto, depois de elevada ao
céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme
intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida,
com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e
angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria
bem-aventurada” (LG. 62).
Desejo a todas e a todos um mês de maio
feliz e repleto das graças de Deus, que nos vêm por intermédio de Maria,
a Mãe do Divino Amor.
Memória de Santa Catarina de Sena.
Viseu, 29 de abril de 2020
+ D. António Luciano dos Santos Costa
Comentários
Enviar um comentário