VOZ DO PASTOR: Precisamos também de “descalçar as sandálias dos pés”

Estamos a celebrar a Liturgia do terceiro Domingo da Quaresma, Dia Nacional da Cáritas. Eu quis vir celebrar convosco a fé nesta Igreja da Beata Rita Amada de Jesus, também para lembrar a todos nós, que somos um projeto em construção, uma Igreja em partilha neste itinerário pascal. Vamos anunciar o “Evangelho da Conversão”, como fez a Beata Rita ao nosso povo, testemunhando na sua vida o anúncio da Boa Nova do Reino de Deus aos mais pobres e necessitados, às famílias, às crianças e aos jovens. Isto foi algo de urgente e necessário no seu carisma, procurando levar a todos os dons da salvação. Para ela era um imperativo da sua vocação, anunciar com a sua vida de testemunho cristão aos pecadores as palavras de Jesus: ”arrependei-vos e acreditai no Evangelho.” Tornou-se deste modo uma verdadeira missionária a anunciar a todos o “Evangelho da Conversão”. O vosso Bispo está aqui convosco nesta Celebração da Eucaristia, fazendo caminho quaresmal com cada um de vós e com todos aqueles que sentem as dificuldades próprias de um povo em caminhada da fé como Moisés. Precisamos também de “descalçar as sandálias dos pés”, isto é tudo aquilo que nos impede de contemplar a presença e as maravilhas de Deus, do nosso verdadeiro Deus, “o Deus dos nossos pais…” É também nas periferias desta Igreja em construção, onde o coração da Beata Rita Amada de Jesus bate, onde nos enche de amor para com Deus e de atenção voltada para os mais pobres que sentimos o apelo de ajudar os nossos irmãos mais necessitados e desfavorecidos. O Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, D. José, Bispo de Santarém lembra-nos na sua mensagem para o Dia da Cáritas: “formamos, na verdade, uma só família humana. Reconhecermo-nos todos como irmãos permite interrogarmo-nos, para lá de eventuais preconceitos sobre as reais condições de vida desta família que somos.” Estas palavras levam-nos a acolher com fé a mensagem da primeira leitura, tirada do Livro do Êxodo, recordando o chamamento que Deus fez a Moisés, mas também a responsabilidade que lhe confiou de transmitir ao povo de Israel a certeza de que Deus está com o seu povo e nunca o abandona. Uma das coisas mais maravilhosas da fé cristã é acreditarmos que apesar do nosso pecado e das nossas dificuldades e fragilidades, Deus está sempre connosco, e não nos abandona, porque Ele é um “Deus clemente e cheio de compaixão.”
Esta prece do salmista leva-nos a acolher as palavras de São Paulo na segunda leitura com redobrada alegria e esperança pascal: “Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse rochedo era Cristo.” Ao tomarmos conhecimento estes dias através dos meios de comunicação social sobre a grande tragédia que afetou o povo de Moçambique, como cristãos vamos rezar por todas as vítimas e pelos que perderam os seus bens e pereceram, e, através de meios próprios queremos ajudar este povo irmão nas suas dores e tribulações, clama pela nossa ajuda e partilha de bens. Como nos lembra o Evangelho na parábola da figueira não queremos desanimar, queremos avivar a nossa esperança e valorizar a paciência que Deus tem sempre connosco, apesar de nem sempre fazermos a sua vontade e sermos filhos que Ele espera. Resta-nos rezar com fé e enchermos o nosso coração de muita confiança. Senhor eu confio em Vós e entrego ao vosso cuidado esta comunidade, o seu pároco e todos os benfeitores desta comunidade. Que o exemplo, testemunho e proteção da Beata Rita Amada de Jesus nos ajude a fazer este caminho quaresmal com muita alegria, esperança e espírito de partilha na certeza de que há “mais alegria em dar, do que em receber”. Vamos todos rezar pedindo a Deus o dom da sua Canonização para maior glória de Deus e salvação do seu povo. (Eucaristia Vespertina na Igreja da Beata Rita Amada de Jesus)
António Luciano, Bispo de Viseu

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