1. Ao
celebrarmos a Solenidade em honra de São Teotónio, padroeiro da nossa Diocese, a
Palavra de Deus que escutámos recorda-nos que Ele quer servir-se de cada um de
nós para realizar a sua obra de salvação.
O Livro de
Ben-Sirá diz-nos na primeira leitura: “Aquele que medita na lei do Altíssimo,
se for do agrado do Senhor Omnipotente, será cheio do espírito de inteligência”
(Sir 39,8). Assim aconteceu com São Teotónio que refletindo nos mistérios de
Deus com humildade, simplicidade e sabedoria, valorizou a expressão do
salmista: “não aspiro coisas superiores a mim”. Hoje estamos aqui a proclamar a
sua santidade, a sua sabedoria, os feitos dos homens ilustres; a celebrar os louvores
de Deus. Irmãos e irmãs, como dizia o Evangelho de São Mateus, só Deus é o
verdadeiro e o único Pai do Céu, que cuida de cada um de nós. “Não vos deixeis
tratar por Mestres, porque um só é o vosso ‘Mestre’ e vós sois todos irmãos”
(…) “Um só é o vosso pai, o Pai Celeste”.
São
Teotónio soube bem mostrar com a sua vida o que significa ser filho de Deus:
“quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Cf. Mt 23,
8-12).
São Paulo,
ao falar aos Coríntios, recorda o amor que Jesus teve por nós ao morrer na
cruz: ”A linguagem da cruz é loucura para aqueles que estão no caminho da perdição,
mas é poder de Deus para aqueles que seguem o caminho da salvação… (Cf. 1Cor 1,
18-25). Por isso, Deus deu a São Teotónio a inteligência para saber acolher a verdadeira
sabedoria de Deus e rejeitar a sabedoria do mundo. Deus deu-lhe a graça de
também ele pregar com assombro a Cristo crucificado e ressuscitado. Eis o caminho
que todos devemos seguir e valorizar.
“Bendito
seja o Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que no alto do Céu nos abençoou
com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos escolheu
em Cristo antes da Criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na
sua presença, no amor” (Ef 1,3-4).
2. A vida
e o sacerdócio de São Teotónio, Prior da Sé de Viseu.
É assim que
eu vislumbro a pessoa, a vida, o sacerdócio e o ministério de São Teotónio. O
grande Prior da Sé de Viseu, o nosso Santo padroeiro e protetor. Um buscador de
Deus, um andarilho de Deus, um peregrino apaixonado por Deus, alguém que esteve
atento ao chamamento de Deus, mas também às mediações da Igreja.
Nasceu no
ano de 1082, no século XI, em Ganfei, concelho de Valença, junto da vizinha
Espanha, filho de Ovaco e Eugénia, pessoas boas e honestas. Nasceu no seio de
uma família cristã que o adornou de virtudes e bons exemplos. Eis aquilo que
nos faz falta nos dias de hoje: famílias boas, com valores humanos, morais e
cristãos. Foi viver para a cidade de Coimbra, com apenas 10 anos, para junto do
seu tio, o Bispo Crescôncio. Teve uma juventude alegre, feliz e exemplar. Um modelo
de vida para ser imitado pelos nossos jovens de hoje.
Jovens:
desafio-vos a conhecerdes São Teotónio. Também foi um jovem e um aventureiro
como vós. Inspirai-vos nele.
Teve um
grande mestre e amigo, D. Telo, que lhe deu uma educação esmerada, integral,
humanista, espiritual e teológica.
Como
sacerdote, no ano de 1110, quando tinha cerca de trinta anos, o Bispo de
Coimbra, D. Gonçalo, confiou-lhe o cargo de Prior da Sé de Viseu, onde
desenvolveu uma vida pessoal de santidade notável e uma experiência pastoral de
caridade tão benéfica, de que a Igreja de Viseu hoje tanto se orgulha.
Na
ausência do Bispo de Viseu, no período da reconquista, foi Prior da Sé e
Administrador Apostólico da Diocese. Pastor bom, zeloso e insigne,
distinguiu-se pela sua bondade, humildade, mansidão, inteligência, grande
atividade pastoral, estudioso da Palavra de Deus que pregava “oportuna e
inoportunamente”, mestre de oração para o seu povo, pois a todos estimava e
dava bom exemplo. Cultivou a proximidade e a empatia com todos, distinguindo-se
pela sua ação junto dos pobres e dos doentes. Viveu então nesta cidade dias
felizes, de paz e tranquilidade.
Peregrinou
duas vezes à Terra Santa, desejoso de conhecer, contemplar e rezar nos lugares
onde Jesus nasceu, viveu, pregou a boa nova, morreu e ressuscitou. Regressando
do novo a Viseu, despediu-se das suas gentes no ano de 1131 e voltou para
Coimbra, para a construção do Mosteiro. Com onze companheiros, fundou o
Mosteiro da Santa Cruz de Coimbra, do qual foi o primeiro Prior, seguindo a Regra
de Santo Agostinho. Chamou a si o coração de todos os que amavam a Deus e o
estimavam.
Morreu no
Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, em 1162. Muito grata está esta Igreja de
Viseu por o ter por padroeiro e possuir na Sé a Relíquia que guarda alguns
fragmentos do seu corpo e que é muito venerada pelos fiéis.
Apraz-me
neste contexto citar uma homilia do Senhor D. Ilídio, onde dizia: “Nada melhor
que inspirar-nos no nosso Padroeiro: Ele apresenta-nos o caminho que viveu e
anunciou. Os tempos eram diferentes e a leitura a fazer hoje deve ter em conta
a realidade atual. Porém, as fontes onde bebeu e aprendeu o amor profundo à
missão, vivida na humildade e no espírito de serviço, são as mesmas. Teotónio, vivendo
a humildade na procura da vontade de Deus, como diz Ben-Sirá, santificou-se
pela leitura, vivência e pregação da Palavra de Deus e pelo amor concreto e
dedicado a todos, de forma especial, pobres e doentes” (Homilia de D. Ilídio,
Bispo Emérito).
3. O
chamamento à santidade.
Todos na Igreja
somos chamados à santidade, os pastores e os fiéis. Com o exemplo da sua vida, o
primeiro Santo Português, São Teotónio, aponta-nos este caminho de santidade
que, apesar das vicissitudes da vida, nos ensina que este é um caminho possível
para todos. Deus chama-nos a todos à santidade, como lembra a Sagrada Escritura:
“Sede santos, como o Pai celeste é Santo”. Assim nos pediu Jesus. Deus, no seu
amor infinito, ama cada um de nós com um amor único e irrepetível, porque “Deus
não faz exceção de pessoas”, todos somos chamados a um caminho de santidade.
“Somos
chamados a viver a contemplação, mesmo no meio da ação, e santificamo-nos no exercício
responsável e generoso da nossa missão” ( Francisco, GE nº 26).
4. A
Igreja Diocesana em caminho de renovação.
Uma Igreja
que procura ser fiel ao Espírito Santo, para produzir frutos na caridade para a
vida do mundo. Este desafio é-nos proposto pelo Magistério da Igreja. E o Papa
Francisco recorda-nos: “Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te
deixares libertar porDeus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito
Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade
com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas
uma tristeza: a de não ser santo” (Francisco, GE nº 34).
Uma Igreja
fiel ao Espírito Santo também nos faz um convite a dizer não ao pecado, ao mal
do nosso mundo e às consequências do mal, como fez São Teotónio. A sua vida foi
para todo o povo de Deus um admirável exemplo de virtude e santidade.
Uma Igreja
diocesana que quer imitar o exemplo de fé, os ensinamentos e o testemunho
inigualável de São Teotónio deve olhar para ele como alguém que progrediu no
caminho da santidade, desafiando cada um de nós no amor ao estudo da Sagrada
Escritura, para instruirmos na fé o povo de Deus. Ele oferecia a Deus
sacrifícios e recitava orações agradecendo todos os dons e benefícios que dele recebia.
Exemplo de
vida na oração “continuamente dirigia a Deus as suas preces; e quando deixava de
rezar, lançava mão da leitura Sagrada, aplicando-se principalmente à Salmodia”
(Da Vida de São Teotónio, escrita por um discípulo; cf. Liturgia das Horas).
A prática
da virtude e das boas obras foram para São Teotónio um desafio positivo que o levaram
a ser um verdadeiro instrumento de Deus ao serviço do seu Povo, particularmente
dos simples e dos pequeninos, com mansidão e humildade.
São
Teotónio, um servidor das pessoas, dos pequeninos, foi um bom mediador entre
Deus e os homens, particularmente, junto dos pobres e dos doentes. Para ele,
servir a Deus era servir os pobres, e servir os pobres era fazer a vontade de
Deus. O serviço à causa do anúncio do Evangelho completava-se no cuidado pelos
pobres e pelos mais necessitados.
5. Toda a
Diocese, todos os fiéis, Bispos, sacerdotes, religiosos, consagrados e leigos,
todos os que estão investidos em autoridade na Diocese, esperamos de São
Teotónio uma grande proteção e intercessão junto de Deus neste Ano Missionário.
Ele convida-nos a termos a coragem de deixar a mediocridade, a superficialidade
e o individualismo da nossa vida para nos entregarmos à causa de Deus com
alegria. A vida de São Teotónio é para todos nós um desafio. Um exemplo e um
modelo de vida a atingir.
Estão hoje
nesta celebração os nossos Diáconos Permanentes e os futuros Diáconos a quem
dou uma palavra de estima e estímulo no exercício do seu ministério.
Aos
Diáconos Permanentes da nossa Diocese que aqui se reuniram nesta Solenidade
para fazer a renovação das promessas feitas no dia da sua Ordenação Diaconal,
desejo as maiores graças de Deus e o dom da fidelidade à sua vocação.
Convido-os a continuarem disponíveis para servir a Igreja de Cristo, como fez
São Teotónio, quer seja no anúncio da Palavra, no serviço do altar, ou no cuidado
dos pobres e dos doentes. Junto destes, sois chamados a viver a verdadeira
diaconia em caridade.
Agradeço a
Deus o dom das vossas esposas aqui presentes e dos vossos familiares.
Convido
todo o povo de Deus, Bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, religiosas e
leigos, a pedirmos a Deus o dom de boas famílias e muitas vocações sacerdotais,
diaconais, à vida consagrada, e laicais, para uma verdadeira renovação da nossa
Diocese. Amem!
+
António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
Comentários
Enviar um comentário