SÃO TEOTÓNIO 2019: Homilia de D. António Luciano


Caríssimos irmãos e irmãs:
1. Ao celebrarmos a Solenidade em honra de São Teotónio, padroeiro da nossa Diocese, a Palavra de Deus que escutámos recorda-nos que Ele quer servir-se de cada um de nós para realizar a sua obra de salvação.
O Livro de Ben-Sirá diz-nos na primeira leitura: “Aquele que medita na lei do Altíssimo, se for do agrado do Senhor Omnipotente, será cheio do espírito de inteligência” (Sir 39,8). Assim aconteceu com São Teotónio que refletindo nos mistérios de Deus com humildade, simplicidade e sabedoria, valorizou a expressão do salmista: “não aspiro coisas superiores a mim”. Hoje estamos aqui a proclamar a sua santidade, a sua sabedoria, os feitos dos homens ilustres; a celebrar os louvores de Deus. Irmãos e irmãs, como dizia o Evangelho de São Mateus, só Deus é o verdadeiro e o único Pai do Céu, que cuida de cada um de nós. “Não vos deixeis tratar por Mestres, porque um só é o vosso ‘Mestre’ e vós sois todos irmãos” (…) “Um só é o vosso pai, o Pai Celeste”.
São Teotónio soube bem mostrar com a sua vida o que significa ser filho de Deus: “quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado” (Cf. Mt 23, 8-12).
São Paulo, ao falar aos Coríntios, recorda o amor que Jesus teve por nós ao morrer na cruz: ”A linguagem da cruz é loucura para aqueles que estão no caminho da perdição, mas é poder de Deus para aqueles que seguem o caminho da salvação… (Cf. 1Cor 1, 18-25). Por isso, Deus deu a São Teotónio a inteligência para saber acolher a verdadeira sabedoria de Deus e rejeitar a sabedoria do mundo. Deus deu-lhe a graça de também ele pregar com assombro a Cristo crucificado e ressuscitado. Eis o caminho que todos devemos seguir e valorizar.
“Bendito seja o Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que no alto do Céu nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que Ele nos escolheu em Cristo antes da Criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor” (Ef 1,3-4).
2. A vida e o sacerdócio de São Teotónio, Prior da Sé de Viseu.
É assim que eu vislumbro a pessoa, a vida, o sacerdócio e o ministério de São Teotónio. O grande Prior da Sé de Viseu, o nosso Santo padroeiro e protetor. Um buscador de Deus, um andarilho de Deus, um peregrino apaixonado por Deus, alguém que esteve atento ao chamamento de Deus, mas também às mediações da Igreja.
Nasceu no ano de 1082, no século XI, em Ganfei, concelho de Valença, junto da vizinha Espanha, filho de Ovaco e Eugénia, pessoas boas e honestas. Nasceu no seio de uma família cristã que o adornou de virtudes e bons exemplos. Eis aquilo que nos faz falta nos dias de hoje: famílias boas, com valores humanos, morais e cristãos. Foi viver para a cidade de Coimbra, com apenas 10 anos, para junto do seu tio, o Bispo Crescôncio. Teve uma juventude alegre, feliz e exemplar. Um modelo de vida para ser imitado pelos nossos jovens de hoje.
Jovens: desafio-vos a conhecerdes São Teotónio. Também foi um jovem e um aventureiro como vós. Inspirai-vos nele.
Teve um grande mestre e amigo, D. Telo, que lhe deu uma educação esmerada, integral, humanista, espiritual e teológica.
Como sacerdote, no ano de 1110, quando tinha cerca de trinta anos, o Bispo de Coimbra, D. Gonçalo, confiou-lhe o cargo de Prior da Sé de Viseu, onde desenvolveu uma vida pessoal de santidade notável e uma experiência pastoral de caridade tão benéfica, de que a Igreja de Viseu hoje tanto se orgulha.
Na ausência do Bispo de Viseu, no período da reconquista, foi Prior da Sé e Administrador Apostólico da Diocese. Pastor bom, zeloso e insigne, distinguiu-se pela sua bondade, humildade, mansidão, inteligência, grande atividade pastoral, estudioso da Palavra de Deus que pregava “oportuna e inoportunamente”, mestre de oração para o seu povo, pois a todos estimava e dava bom exemplo. Cultivou a proximidade e a empatia com todos, distinguindo-se pela sua ação junto dos pobres e dos doentes. Viveu então nesta cidade dias felizes, de paz e tranquilidade.
Peregrinou duas vezes à Terra Santa, desejoso de conhecer, contemplar e rezar nos lugares onde Jesus nasceu, viveu, pregou a boa nova, morreu e ressuscitou. Regressando do novo a Viseu, despediu-se das suas gentes no ano de 1131 e voltou para Coimbra, para a construção do Mosteiro. Com onze companheiros, fundou o Mosteiro da Santa Cruz de Coimbra, do qual foi o primeiro Prior, seguindo a Regra de Santo Agostinho. Chamou a si o coração de todos os que amavam a Deus e o estimavam.
Morreu no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, em 1162. Muito grata está esta Igreja de Viseu por o ter por padroeiro e possuir na Sé a Relíquia que guarda alguns fragmentos do seu corpo e que é muito venerada pelos fiéis.
Apraz-me neste contexto citar uma homilia do Senhor D. Ilídio, onde dizia: “Nada melhor que inspirar-nos no nosso Padroeiro: Ele apresenta-nos o caminho que viveu e anunciou. Os tempos eram diferentes e a leitura a fazer hoje deve ter em conta a realidade atual. Porém, as fontes onde bebeu e aprendeu o amor profundo à missão, vivida na humildade e no espírito de serviço, são as mesmas. Teotónio, vivendo a humildade na procura da vontade de Deus, como diz Ben-Sirá, santificou-se pela leitura, vivência e pregação da Palavra de Deus e pelo amor concreto e dedicado a todos, de forma especial, pobres e doentes” (Homilia de D. Ilídio, Bispo Emérito).
3. O chamamento à santidade.
Todos na Igreja somos chamados à santidade, os pastores e os fiéis. Com o exemplo da sua vida, o primeiro Santo Português, São Teotónio, aponta-nos este caminho de santidade que, apesar das vicissitudes da vida, nos ensina que este é um caminho possível para todos. Deus chama-nos a todos à santidade, como lembra a Sagrada Escritura: “Sede santos, como o Pai celeste é Santo”. Assim nos pediu Jesus. Deus, no seu amor infinito, ama cada um de nós com um amor único e irrepetível, porque “Deus não faz exceção de pessoas”, todos somos chamados a um caminho de santidade.
“Somos chamados a viver a contemplação, mesmo no meio da ação, e santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão” ( Francisco, GE nº 26).
4. A Igreja Diocesana em caminho de renovação.
Uma Igreja que procura ser fiel ao Espírito Santo, para produzir frutos na caridade para a vida do mundo. Este desafio é-nos proposto pelo Magistério da Igreja. E o Papa Francisco recorda-nos: “Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares libertar porDeus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas uma tristeza: a de não ser santo” (Francisco, GE nº 34).
Uma Igreja fiel ao Espírito Santo também nos faz um convite a dizer não ao pecado, ao mal do nosso mundo e às consequências do mal, como fez São Teotónio. A sua vida foi para todo o povo de Deus um admirável exemplo de virtude e santidade.
Uma Igreja diocesana que quer imitar o exemplo de fé, os ensinamentos e o testemunho inigualável de São Teotónio deve olhar para ele como alguém que progrediu no caminho da santidade, desafiando cada um de nós no amor ao estudo da Sagrada Escritura, para instruirmos na fé o povo de Deus. Ele oferecia a Deus sacrifícios e recitava orações agradecendo todos os dons e benefícios que dele recebia.
Exemplo de vida na oração “continuamente dirigia a Deus as suas preces; e quando deixava de rezar, lançava mão da leitura Sagrada, aplicando-se principalmente à Salmodia” (Da Vida de São Teotónio, escrita por um discípulo; cf. Liturgia das Horas).
A prática da virtude e das boas obras foram para São Teotónio um desafio positivo que o levaram a ser um verdadeiro instrumento de Deus ao serviço do seu Povo, particularmente dos simples e dos pequeninos, com mansidão e humildade.
São Teotónio, um servidor das pessoas, dos pequeninos, foi um bom mediador entre Deus e os homens, particularmente, junto dos pobres e dos doentes. Para ele, servir a Deus era servir os pobres, e servir os pobres era fazer a vontade de Deus. O serviço à causa do anúncio do Evangelho completava-se no cuidado pelos pobres e pelos mais necessitados.
5. Toda a Diocese, todos os fiéis, Bispos, sacerdotes, religiosos, consagrados e leigos, todos os que estão investidos em autoridade na Diocese, esperamos de São Teotónio uma grande proteção e intercessão junto de Deus neste Ano Missionário. Ele convida-nos a termos a coragem de deixar a mediocridade, a superficialidade e o individualismo da nossa vida para nos entregarmos à causa de Deus com alegria. A vida de São Teotónio é para todos nós um desafio. Um exemplo e um modelo de vida a atingir.
Estão hoje nesta celebração os nossos Diáconos Permanentes e os futuros Diáconos a quem dou uma palavra de estima e estímulo no exercício do seu ministério.
Aos Diáconos Permanentes da nossa Diocese que aqui se reuniram nesta Solenidade para fazer a renovação das promessas feitas no dia da sua Ordenação Diaconal, desejo as maiores graças de Deus e o dom da fidelidade à sua vocação. Convido-os a continuarem disponíveis para servir a Igreja de Cristo, como fez São Teotónio, quer seja no anúncio da Palavra, no serviço do altar, ou no cuidado dos pobres e dos doentes. Junto destes, sois chamados a viver a verdadeira diaconia em caridade.
Agradeço a Deus o dom das vossas esposas aqui presentes e dos vossos familiares.
Convido todo o povo de Deus, Bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados, religiosas e leigos, a pedirmos a Deus o dom de boas famílias e muitas vocações sacerdotais, diaconais, à vida consagrada, e laicais, para uma verdadeira renovação da nossa Diocese. Amem!
+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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