Homilia de D. António Luciano na entrada solene na nossa Diocese

 
1. Somos a Igreja viva reunida à volta do altar, para celebrar a Festa da dedicação da Catedral, neste dia em que acolheis o vosso novo Bispo. É belo ver a igreja em Festa, reunida à volta do seu Bispo, como o seu Pastor, celebrando a Eucaristia, na qual todos somos convidados a beber da Água Viva que vem da nascente que jorra por baixo do altar e que é sinal vivo de Cristo, o Pão vivo descido dos céus. Podemos refrescar-nos nessa água símbolo do Batismo e dos Sacramentos, de modo especial na Santíssima Eucaristia que convoca os cristãos e os reúne como pedras vivas do “templo do Senhor”.
O Cordeiro de Deus é o nosso Pastor, às fontes de água viva nos conduz o Senhor. Estas fontes de Água Viva, que nos vêm do coração de Deus rico de amor, de graça, de santidade e misericórdia, são para todos e cada um de nós, hoje. A água viva, que brota de junto do altar e que inunda o Templo de Deus, fertiliza todo o lugar por onde ela passa, como nos lembra, na primeira leitura, o Profeta Ezequiel. Essa água viva é o próprio Deus que no seu amor infinito quer revitalizar espiritualmente cada um de nós.
Bendito seja Deus por tão grande dádiva oferecida ao seu Povo reunido hoje festivamente nesta vetusta e antiga Sé de Viseu, Igreja Mãe de toda a Diocese. Somos um povo de profetas, sacerdotes e reis.
Quis Deus escolher-me para vosso Bispo, para que, exercendo o múnus de Cristo Bom Pastor, congregue esta Igreja particular na comunhão, na unidade e na paz, no mistério que nos une à Igreja Universal, a única Igreja de Cristo, presidida pelo Papa Francisco, que me envia como sucessor dos Apóstolos para o meio de vós. “Convosco sou cristão, para vós sou o vosso Bispo” (S. Agostinho).
O Senhor, ao entregar um novo Pastor a esta Igreja particular, convida-nos a todos a crescermos na verdadeira comunhão eclesial: bispo, sacerdotes, diáconos permanentes, consagrados, consagradas e leigos, somos chamados a edificar esta Igreja adornada de pedras vivas, fazendo sobressair entre elas “a santidade que é o rosto mais belo da Igreja” (GE 9).
Torna-se assim um desafio pastoral e um compromisso comum a todos.
Não tenhais, por isso, medo da santidade.
A festa da dedicação da nossa Igreja Catedral é um convite a sermos um povo santo, uma Igreja cheia de beleza e santidade resplandecente da glória de Deus.
Cada Igreja particular tem um rosto, uma cabeça, um Bispo em comunhão com o seu presbitério e com todo o povo de Deus, com toda a humanidade redimida por Cristo, que temos como missão ajudar a ser salva.
Cristo ressuscitado está que presente na sua Igreja é dela a Cabeça. As igrejas de pedra são um sinal dessa presença de Cristo; é Ele que aí fala, dá-se em alimento, preside à comunidade reunida em oração, “permanece” connosco para sempre (cf. SC 7).
Que todos sejamos cada vez mais as pedras vivas para a construção do templo espiritual do qual o Ressuscitado é a pedra angular (cf l Pd 2,49).
O convite a que primeiro contemplemos o Senhor encontra-se na beleza do seu olhar que nos cativa e do seu coração que misericordiosamente nos ama e nos ensina com as suas palavras a anunciar a Boa-Nova que salva e nos capacita a sermos depositários de um bem que humaniza e santifica, que nos ajuda a levar uma vida nova.

2. A Igreja, a Casa de Deus, é um lugar sagrado. Aqui somos convidados a celebrar a fé, a louvar o Senhor, a escutar a Sua Palavra, a celebrar a Eucaristia, os demais sacramentos, a cultivar o silêncio interior e a verdadeira oração, pois a “casa de meu Pai é Casa de oração”.
É nesta Igreja Mãe da Diocese que o Bispo tem a sua Cátedra para ensinar, santificar e governar o povo de Deus. É isto que eu desejo que seja esta bela Catedral de Viseu, um lugar consagrado a Deus, onde se celebra o culto divino e onde as nossas orações sobem até Deus, como uma nuvem de incenso.
Um lugar de verdadeiro culto espiritual, porque o “Templo de Deus é Santo” e nós somos chamados a ser esse templo. Convidados a sermos discípulos missionários, templos vivos onde Deus mora conduzidos pela graça do Espírito Santo.
Só uma Igreja vivificada pelo Espírito do Senhor, consciente da sua vocação e da sua missão, tem o dinamismo de se aproximar do Senhor.
A este respeito, recordo o que disse no dia da minha Ordenação Episcopal na Sé da Guarda: “a oração é o verdadeiro respiro de Deus nas nossas vidas, e eu senti-o do modo particular. A oração leva-nos ao coração de Deus e traz o coração de Deus à nossa frágil condição humana. Ao rezar ao Pai, ‘Venha o teu reino’ e ‘seja feita a Tua vontade’, a Igreja reunida entra no coração de Deus Pai, fonte de vida, de amor e de paz”. Aproximai-vos do Senhor, tornai-vos pedras vivas, verdadeiramente edificadas na fé, na esperança e na caridade, assentes pela oração em Cristo “Pedra Angular”.
Esta é a verdadeira Igreja de Cristo em saída, uma Igreja missionária, enviada a cada um de nós e às periferias do nosso mundo.
E isto que eu desejo que aconteça aqui e agora com a proteção de Maria, a Mãe da Igreja orante, a Senhora do Altar-Mor, a Senhora da Assunção, a serva humilde e fiel, a cuidadora das feridas da humanidade sofredora, a Senhora a quem confiamos toda a nossa Diocese de Viseu.
Que Ela nos ensine a amar e a servir à maneira de Seu Filho Jesus Cristo, o Bom Pastor.
Que São José nos ajude a guardar o depósito da fé, a incentivar e inovar novas formas de bem cuidar da Igreja e de vigiar pela sua comunhão, unidade e integridade pastoral.

3. Uma Igreja que celebra a fé, que acolhe o seu novo Pastor, deve ser uma Igreja missionária e em saída. Onde os cristãos se tornam discípulos missionários e corresponsáveis no caminho pós-sinodal que estamos a fazer. Isto traz-nos grandes desafios e belas oportunidades que convosco gostaria de aproveitar para a revitalização e renovação pessoal e pastoral de toda a Igreja Diocesana.
O ensinamento da Evangelium Gaudium do Papa Francisco lembra-nos que “a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele, que nos impele a amá-lo cada vez mais (…). Se não sentimos o desejo intenso de comunicar Jesus, precisamos de nos deter em oração para lhe pedir que volte a cativar-nos. Precisamos de o implorar cada dia, pedir a sua graça para que abra o nosso coração frio e sacuda a nossa vida tíbia e superficial” (EG 264).
É preciso cuidar dos sacerdotes, do seminário, da família, dos jovens, das vocações, das comunidades, dos pobres, dos doentes e dos marginalizados e excluídos.
Confio no empenhamento pastoral de todos e na responsabilidade que, como cristãos, temos na Igreja. Nós também somos “o templo do Senhor”, a Igreja viva, povo santo, mas também necessitada de conversão, de renovação e atualização.
Hoje os trabalhos e solicitações pastorais são muitas e por isso temos de saber fazer o verdadeiro discernimento para responder às necessidades da Igreja e da sua ação pastoral numa equilibrada hierarquia de valores que respondam cabalmente às necessidades e serviços a prestar.
Temos de ter a coragem de formar o povo de Deus para que entenda as mudanças que a caminhada sinodal e pós-sinodal exige de todos nós.
Mãos à obra…

4. Num olhar atento para o nosso mundo, não podemos esquecer os seus problemas e complexidades existenciais e os desafios que faz à doutrina social da Igreja.
O bem comum de todos, a justiça e a paz social que somos chamados a construir, crentes e não crentes, não pode ser uma opção de segundo plano. O respeito pela vida e pela pessoa humana, promovendo a sua dignidade e integridade, leva-nos a ter uma consciência de respeito e responsabilidade onde o acolhimento do outro, seja ele quem for e de onde vier, deve ser para nós cristãos um indicativo evangélico de tudo fazer para o bem do próximo.
Convido a todos a viver a vida com esperança e confiança. Faço um apelo de modo particular aos agentes de pastoral ordenados ou que vivem um carisma ministerial e de serviço à Igreja.
O entusiasmo da primeira hora e a convicção da fé de fazer sempre a vontade de Deus, serão os melhores antídotos contra o desânimo e o cansaço físico e espiritual próprios de quem pastoralmente se dedica ao serviço da Igreja e da humanidade.
Cheios de zelo apostólico, acredito que levaremos a todos uma palavra de esperança e de consolação.
A perseverança, a oração, a fidelidade, o fervor missionário, o otimismo com realismo, a fraternidade sacramental e o ardor do trabalho pastoral ajudar-nos-ão a lutar contra as tentações a que estão sujeitos os agentes pastorais de que fala o Papa.
Preocupemo-nos todos em centrar toda a nossa vida e espiritualidade, quer sacerdotal, quer de plena consagração, quer laical, na pessoa de Jesus Cristo, o nosso único bom Pastor. Que sempre e em tudo nos ensine a amar e servir o seu Corpo Místico que é a Igreja.
Que a Senhora da Assunção, São Teotónio e a Beata Rita Amada de Jesus nos assistam nos nossos passos e nos favoreçam com as verdadeiras bênçãos de Deus.

Viseu, 22 de julho de 2018
D. António Luciano dos Santos Costa, bispo de Viseu

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