Nota Pastoral: Só baseada na fé a caridade pode dar esperança a quem sofre

Amar como Jesus amou é o critério que D. Ilídio aponta, na sua Nota Pastoral para a Quaresma, como critério válido da autenticidade de vida do cristão. Inspirada na Mensagem do Papa para esta Quaresma, a Nota Pastoral de D. Ilídio, que transcrevemos, apela também à partilha de bens, minorando as dificuldades daqueles que sofrem as sequelas da crise económica e social que afecta hoje tantas pessoas:“cumprida a justiça – que não tolera a violação de direitos fundamentais nem atentados à dignidade básica e que não é compatível com qualquer tipo de corrupção – viva-se a caridade”: 

1. Mensagem para a Quaresma

O Santo Padre escreveu uma Mensagem para a Quaresma que tem como título: “Crer na caridade suscita caridade”. No Ano da Fé, “crer na caridade” é essencial, como acto de fé em Deus Pai que nos ama como filhos e que nos converte em filhos, participantes da família divina, onde “suscitar a caridade” é próprio de quem é “imagem” e é chamado a ser “semelhança” do mesmo Deus.
Importa esclarecer que por “caridade” se entende amor real e verdadeiro ao próximo e que a caridade está intrinsecamente ligada à “justiça”, reclamando-a e exigindo-a. Esta caridade – a única, porque bela, verdadeira e autêntica – fundamenta a esperança e alicerça-se na fé. É a que se apresenta como própria para dizer ‘Deus’ (Deus é amor) e aquela que traduz a acção de Jesus Cristo que «como amasse os seus que estavam no mundo, amou-os até ao extremo» (Jo 13, 1) e que valida o nosso amor (‘amar como Jesus amou’). Constitui, mesmo, o distintivo do ser cristão: «nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). E, para tirar quaisquer dúvidas, temos o apelo ao comportamento consequente: «nisto conhecemos o amor: Jesus deu a sua vida por nós. Também nós devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos» (1 Jo 3, 16). E temos o critério a dar coerência ao preceito: «quem possuir bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus?» (1 Jo 3, 17).
Estão aqui as exigências e os critérios para se ultrapassar a crise que hoje constitui o centro de tantas dificuldades e de tanto sofrimento para tantas pessoas. Cumprida a justiça – que não tolera a violação de direitos fundamentais nem atentados à dignidade básica e que não é compatível com qualquer tipo de corrupção – viva-se a caridade. Esta cumpre-se pela atenção ao outro, começando pelo mais carenciado, pela compaixão de cura e de proximidade, pela partilha generosa e pelo amor personalizante. Esta caridade é cara e custa (também dinheiro), mas liberta quem se ama e é libertadora de quem a vive.
Somente podemos, depois de praticar a caridade assente na fé no Filho de Deus que é Criador e Pai de todos, somente assim podemos fazer apelo à esperança, pois a esperança sem caridade e sem fé é mandar aquecer quem tem frio e mandar comer quem tem fome, sem dar a necessária e indispensável ajuda.
2. Renúncia Quaresmal

Seguindo a coerência da decisão tomada há 2 anos, o Conselho Presbiteral atribuiu o produto da Renúncia Quaresmal deste ano 2013 a projectos pastorais de missionários da diocese que estão fora e a projectos pastorais da diocese, a critério do Bispo. Assim, 50% serão enviados para alguns dos projectos que estão a chegar à Secretaria Episcopal, vindos de Missionários que, oriundos da Igreja de Viseu, estão espalhados pelo mundo. Os restantes 50 % serão orientados para um ou mais projectos que, na diocese, mereçam esta partilha solidária, tendo em conta a necessária sobriedade e as urgentes prioridades deste tempo que vivemos.
Apela-se à generosidade dos cristãos que, como deve acontecer e sempre tem acontecido, são convidados a viver o jejum e a abstinência quaresmais como as formas cristãs de se fazerem próximos de quem mais precisa.
Santa Quaresma e Feliz Páscoa!

VISEU, 7 de Fevereiro de 2013
Bispo Ilídio

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