A missão é
de Deus na qual somos chamados a cooperar. O Mês Missionário tem a sua
origem no Dia Mundial das Missões (penúltimo domingo do mês de outubro).
A data foi instituída pelo papa Pio XI em 1926, como um Dia de oração e
ofertas em favor da evangelização dos povos. O objectivo é incentivar,
nas Igrejas locais, a cooperação missionária. São apenas alguns os
missionários e missionárias que partem. Porém, toda a comunidade tem o
dever de participar ativamente na missão universal. Essa cooperação
realiza-se de três formas: 1º pela oração, sacrifício e testemunho de
vida; 2ºpor meio da ajuda material aos projetos missionários; 3º
colocando-se à disposição para servir na missão ad gentes. As missões precisam de missionários e missionárias. Não podes ir mas podes ajudar!
MENSAGEM para o 90º DIA
MUNDIAL DAS MISSÕES 2016
Igreja
missionária, testemunha de misericórdia
Queridos
irmãos e irmãs!
1. O Jubileu Extraordinário da
Misericórdia, que a Igreja está a viver, proporciona uma luz particular também
ao Dia Mundial das Missões de 2016: convida-nos a olhar a missão ad gentes como
uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material. Com
efeito, neste Dia Mundial das Missões, todos somos convidados a «sair», como
discípulos missionários, pondo cada um a render os seus talentos, a sua
criatividade, a sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e
compaixão de Deus à família humana inteira. Em virtude do mandato missionário,
a Igreja tem a peito quantos não conhecem o Evangelho, pois deseja que todos
sejam salvos e cheguem a experimentar o amor do Senhor. Ela «tem a missão de
anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho» (Bula
Misericordiae Vultus, 12), e anunciá-la em todos os cantos da terra, até
alcançar toda a mulher, homem, idoso, jovem e criança.
2. A misericórdia gera íntima
alegria no coração do Pai, sempre que encontra cada criatura humana; desde o
princípio, Ele dirige-Se amorosamente mesmo às mais vulneráveis, porque a sua
grandeza e poder manifestam-se precisamente na capacidade de empatia com os
mais pequenos, os descartados, os oprimidos (cf. Dt 4, 31; Sal 86, 15; 103, 8;
111, 4). É o Deus benigno, solícito, fiel; aproxima-Se de quem passa
necessidade para estar perto de todos, sobretudo dos pobres; envolve-Se com
ternura na realidade humana, tal como fariam um pai e uma mãe na vida dos seus
filhos (cf. Jr 31, 20). É ao ventre materno que alude o termo utilizado na
Bíblia hebraica para dizer misericórdia: trata-se, pois, do amor duma mãe pelos
filhos; filhos que ela amará sempre, em todas as circunstâncias suceda o que
suceder, porque são fruto do seu ventre. Este é um aspeto essencial também do
amor que Deus nutre por todos os seus filhos, especialmente pelos membros do
povo que gerou e deseja criar e educar: perante as suas fragilidades e
infidelidades, o seu íntimo comove-se e estremece de compaixão (cf. Os 11, 8).
Mas Ele é misericordioso para com todos, o seu amor é para todos os povos e a
sua ternura estende-se sobre todas as criaturas (cf. Sal144, 8-9).
3. A misericórdia encontra a
sua manifestação mais alta e perfeita no Verbo encarnado. Ele revela o rosto do
Pai, rico em misericórdia: «não somente fala dela e a explica com o uso de
comparações e parábolas, mas sobretudo Ele próprio a encarna e a personifica»
(João Paulo II, Enc. Dives in misericordia, 2). Aceitando e seguindo Jesus por
meio do Evangelho e dos Sacramentos, com a ação do Espírito Santo, podemos
tornar-nos misericordiosos como o nosso Pai celestial, aprendendo a amar como
Ele nos ama e fazendo da nossa vida um dom gratuito, um sinal da sua bondade
(cf. Bula Misericordiae Vultus, 3). A primeira comunidade que, no meio da
humanidade, vive a misericórdia de Cristo é a Igreja: sempre sente sobre si o
olhar d’Ele que a escolhe com amor misericordioso e, deste amor, ela deduz o
estilo do seu mandato, vive dele e dá-o a conhecer aos povos num diálogo
respeitoso por cada cultura e convicção religiosa.
4. Como nos primeiros tempos
da experiência eclesial, há tantos homens e mulheres de todas as idades e
condições que dão testemunho deste amor de misericórdia. Sinal eloquente do
amor materno de Deus é uma considerável e crescente presença feminina no mundo
missionário, ao lado da presença masculina. As mulheres, leigas ou consagradas
– e hoje também numerosas famílias –, realizam a sua vocação missionária nas
mais variadas formas: desde o anúncio direto do Evangelho ao serviço
sociocaritativo. Ao lado da obra evangelizadora e sacramental dos missionários,
aparecem as mulheres e as famílias que entendem, de forma muitas vezes mais
adequada, os problemas das pessoas e sabem enfrentá-los de modo oportuno e por
vezes inédito: cuidando da vida, com uma acrescida atenção centrada mais nas
pessoas do que nas estruturas e fazendo valer todos os recursos humanos e espirituais
para construir harmonia, relacionamento, paz, solidariedade, diálogo,
cooperação e fraternidade, tanto no setor das relações interpessoais como na
área mais ampla da vida social e cultural e, de modo particular, no cuidado dos
pobres.
5. Em muitos lugares, a
evangelização parte da atividade educativa, à qual o trabalho missionário
dedica esforço e tempo, como o vinhateiro misericordioso do Evangelho (cf. Lc
13, 7-9; Jo 15, 1), com paciência para esperar os frutos depois de anos de
lenta formação; geram-se assim pessoas capazes de evangelizar e fazer chegar o
Evangelho onde ninguém esperaria vê-lo realizado. A Igreja pode ser definida
«mãe», mesmo para aqueles que poderão um dia chegar à fé em Cristo. Espero,
pois, que o povo santo de Deus exerça o serviço materno da misericórdia, que
tanto ajuda os povos que ainda não conhecem o Senhor a encontrá-Lo e a amá-Lo.
Com efeito a fé é dom de Deus, e não fruto de proselitismo; mas cresce graças à
fé e à caridade dos evangelizadores, que são testemunhas de Cristo. Quando os
discípulos de Jesus percorrem as estradas do mundo, é-lhes pedido aquele amor
sem medida que tende a aplicar a todos a mesma medida do Senhor; anunciamos o
dom mais belo e maior que Ele nos ofereceu: a sua vida e o seu amor.
6. Cada povo e cultura tem
direito de receber a mensagem de salvação, que é dom de Deus para todos. E a
necessidade dela redobra ao considerarmos quantas injustiças, guerras, crises
humanitárias aguardam, hoje, por uma solução. Os missionários sabem, por
experiência, que o Evangelho do perdão e da misericórdia pode levar alegria e
reconciliação, justiça e paz. O mandato do Evangelho – «Ide, pois, fazei
discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28,
19-20) – não terminou, antes pelo contrário impele-nos a todos, nos cenários
presentes e desafios atuais, a sentir-nos chamados para uma renovada «saída»
missionária, como indiquei na Exortação Apostólica Evangelii gaudium: «cada
cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe
pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria
comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz
do Evangelho» (n. 20).
7. Precisamente neste Ano
Jubilar, celebra o seu nonagésimo aniversário o Dia Mundial das Missões,
promovido pela Pontifícia Obra da Propagação da Fé e aprovado pelo Papa Pio XI
em 1926. Por isso, considero oportuno recordar as sábias indicações dos meus
Predecessores, estabelecendo que fossem destinadas a esta Opera todas as
ofertas que cada diocese, paróquia, comunidade religiosa, associação e
movimento, de todo o mundo, pudessem recolher para socorrer as comunidades
cristãs necessitadas de ajuda e revigorar o anúncio do Evangelho até aos
últimos confins da terra. Também nos nossos dias, não nos subtraiamos a este
gesto de comunhão eclesial missionário; não restrinjamos o coração às nossas
preocupações particulares, mas alarguemo-lo aos horizontes da humanidade
inteira.
8. Santa Maria, ícone sublime
da humanidade redimida, modelo missionário para a Igreja, ensine a todos,
homens, mulheres e famílias, a gerar e guardar por todo o lado a presença viva
e misteriosa do Senhor Ressuscitado, que renova e enche de jubilosa
misericórdia as relações entre as pessoas, as culturas e os povos.
Vaticano, 15 de maio –
Solenidade de Pentecostes – de 2016.
FRANCISCO
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