Evolução Histórico - Artística do edifício: Após o período conturbado da reconquista da cidade de Viseu e da restauração da diocese, o bispo D. Egas (1289-1313) deu início à construção de um edifício com as características espaciais e com as dimensões correspondentes à dignidade de uma Catedral.
Nesta construção inicial verificou-se a miscigenação de elementos característicos das sintaxes românica e gótica. Ao longo dos séculos o templo primitivo foi objeto de inúmeras intervenções que alteraram profundamente a sua fisionomia medieval. Estas ações foram maioritariamente realizadas por diligências dos bispos da diocese, enquanto o Cabido se ocupava essencialmente da realização de pequenos arranjos, necessários à manutenção da construção.
Ao longo dos séculos foram várias as intervenções, maioritariamente resultantes da iniciativa dos bispos, entre as quais enunciamos as de maior relevância e impacto: Entre 1501-1505 a encomenda do políptico gótico para a capela-mor à oficina de Vasco Fernandes e de Francisco Henriques, pelo bispo D. Fernão Gonçalves de Miranda; Em 1513 D. Diogo Ortiz de Vilhegas mandou construir a cobertura de pedra da Catedral, a denominada abóbada de nós, e substituir a fachada gótica por uma com o decorativismo do manuelino. Entre 1528-1534 D. Miguel da Silva mandou edificar um novo claustro, segundo o risco do arquiteto italiano Francesco de Cremona; Em 1635 verifica-se uma intervenção do Cabido justificada pela necessidade de dar resposta a uma situação de emergência: a fachada manuelina ruiu na sequência de um temporal, determinando a sua substituição por outra de características maneiristas, cujo risco era da autoria do arquiteto de Salamanca João Moreno; Entre 1675 e 1684 o Bispo D. João de Melo (1673-1684) alterou profundamente a capela-mor, a gótica foi demolida e aumentada, o político gótico foi desmantelado e substituído por uma composição retabular enformada de acordo com a sintaxe maneirista, a abóbada foi pintada com coloridos motivos de grutescos, a sacristia foi enobrecida com painéis de azulejos, um novo paramenteiro e a pintura da cobertura. Estas intervenções foram determinantes para a metamorfose do edifício catedralício, contudo a reforma mais avultada e profunda foi efetuada não sob o expediente dos bispos, mas sim do Cabido. Na sequência da morte do bispo D. Jerónimo Soares (1694-1720), ocorrida em 18 de janeiro de 1720, e em face das relações pouco cordiais entre o Rei D. João V e a Cúria Romana, legalmente, competia ao Cabido a administração das rendas da Mitra. Foram vinte anos de Sé Vaga em que o Cabido como administrador das rendas da mesa pontifical tomou a iniciativa e a liberdade de desenvolver um vastíssimo plano de reformas da Catedral, que determinou uma manifesta mutação na fisionomia do edifício, esbatendo as suas características medievais. As obras de arquitetura realizadas neste período de Sé Vaga (1720-1740) introduziram alterações significativas no aspeto visual do interior da Catedral, capitalizando a utilização da luz, reparando alguns problemas que condicionavam a utilização do espaço e harmonizando esteticamente alguns componentes. Abriram-se janelas na fachada e nas capelas laterais para evitar os elevados gastos com cera; foi executado um novo pavimento, as paredes e colunas foram rebocadas e caiadas; reformaram-se as capelas laterais, dedicadas a São Pedro e a São João; ao claustro, foi acrescentado um segundo piso, a Casa de São Teotónio, onde se realizavam as sessões capitulares, foi reformada nas paredes e na porta, que ficou mais espaçosa e com um nicho para a colocação da imagem de São Teotónio. As intervenções arquitetónicas foram acompanhadas por um vasto programa de execução de obras de talha, imaginária e azulejaria, que no seu conjunto imputaram ao interior da Catedral os brilhos, a exuberância da cor e do ouro, a dinâmica de formas e a teatralidade que são apanágio do barroco. A talha e o azulejo foram dois recursos claramente vinculados à fase inicial do plano de intervenção, contudo, a amplitude da sua aplicação foi-se dilatando ao longo da década de vinte do século XVIII. Numa primeira fase estabeleceu-se como necessária a execução de dois púlpitos e de duas estruturas retabulares para as capelas do transepto, depois destas serem objeto de uma reforma arquitetónica. Os retábulos das capelas de São Pedro e de São João Batista foram entalhados em 1721, pelo mestre Manuel Correia (Santa Maria de Landim, Barcelos), e os de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Ana em 1726, pelo mestre Manuel Vieira da Silva (Barancelhe, Guimarães), contribuindo estes exemplares para a admissão precoce das primeiras formas do formulário joanino na diocese de Viseu, ainda que articuladas com motivos do barroco nacional, demonstrando que o Cabido era recetivo e estava culturalmente aberto à aceitação das novidades artísticas. Conservando-se as invocações primitivas das capelas, a substituição das composições pictóricas pelas de talha ocasionou a encomenda das correspondentes esculturas. Mais uma vez o Cabido evidenciou o seu desvelo e conhecimentos artísticos na escolha do artista, incidindo a sua preferência num dos mestres mais reputados que na época trabalhavam no Reino, Claude Courrat Laprade. Simultaneamente, iniciou-se a reforma do cadeiral do coro-alto. Tratava-se de uma composição encomendada no século XVI por D. Miguel da Silva, composta por cadeiras dispostas em U e repartidas por dois andares, que o Cabido mandou remodelar em 1721, alterando significativamente a sua fisionomia. Outra das prioridades do Cabido incidiu sobre a execução de um novo órgão, cujo risco foi encomendado a Gaspar Ferreira, ainda no ano de 1721, a planta para as bacias de um exemplar pelo estilo moderno Coimbra. O brilho do ouro e a exuberância da policromia foram também aplicados aos ornatos de pedra executados no período manuelino, concretamente os brasões dos fechos da abóbada, os bocetes, as nervuras curvas na abóbada que suporta o coro alto, os capitéis e a balaustrada do coro-alto. Conjuntamente, nas paredes das naves laterais foi colocado um lambril de azulejos barroco, executado na oficina do oleiro Agostinho de Paiva e assente por Joseph de Góes entre 1720 e 1722. Em 1729 o Cabido encomendou uma nova composição retabular para a capela-mor o afamado arquiteto e entalhador Santos Pacheco. Para a entalhar foi contratado o entalhador Francisco Machado. A obra do cadeiral foi encomendada em 1733 ao arquiteto Gaspar Ferreira, em madeira de pau-preto e de castanho. Posteriormente, a intervenção mais profunda que a Catedral sofreu ocorreu em meados do século XX, sob a iniciativa da DGEMN. in Rota das Catedrais G.I./J.B.:DBCDV
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